sábado, 19 de fevereiro de 2011

BULLYING NÃO É BRINCADEIRA



Durante a minha infância tive algumas experiências com brincadeiras desagradáveis nos grupos de amigos. Nunca fui “santinha”, mas revidar não era minha característica, por isso, sempre ficava com um espinho na garganta ou uma ‘coceirinha’ na palma da mão provocando-me: “por que não deu o troco?”

O sentimento passava logo e no dia seguinte era tudo igual, uma vez que continuávamos amigos, realizando as mesmas rotinas de vida, dentre elas a corriqueira passadinha na casa do outro para, a pé, irmos à escola. Aquela época foi boa, porque foi o meu tempo e eu o aproveitei. Cada um a seu tempo, não acha?

Mas o meu “tempo” parece que ainda não terminou. Tenho que me manter alerta, de prontidão, para receber e agradecer o que me chega de bom. Do mesmo modo devo estar preparada para resolver o que vem como contrário aos meus objetivos. Bem, me desenvolvi um pouco, portanto, posso dizer que tenho algumas condições para realizar tal fim.

Embora muitas coisas tenham mudado de rumo, desde aquela época até agora, parece-me que algumas permanecem nos mesmos lugares. Às vezes, me questiono se o homem, depois de tantas transformações sociais, tecnológicas, informacionais, percebe que a vida tem lhe possibilitado a aproximação ou o melhoramento nas suas relações interpessoais. Tenho a impressão de viver da mesma maneira que os nossos ancestrais pré-históricos que sobreviveram à custa de muita luta. Não penso com isso em desconsiderar o homem como um ser evoluído, no entanto, existem algumas circunstâncias vividas que me levam a pensar contrariamente a este fato.

É aqui que chego à ideia do Bullying. Falar sobre Bullying, hoje, para mim, já não é mais tão doloroso. Fui me inteirando sobre o assunto até apreender o significado desta palavra ‘estranha’. Estranha? Não. É uma palavra cujo conceito nos acompanha há gerações.
Para quem ainda não sabe, Bullying significa uma variedade de agressões intencionais e repetidas, praticadas entre alunos para mostrar o poder de força de um sobre o outro. Os autores e os alvos são crianças e adolescentes, e as ações dos agressores e/ou autores são praticadas dentro das escolas, cujas vítimas (alvos) são os mais tímidos, ou aqueles que apresentam algumas características físicas que podem chamar a atenção, os conhecidos ou tratados – “diferentes”.

As pesquisas indicam que as crianças alvos de Bullying superam cada vez menos seus traumas psicológicos. O problema está no crescimento desta prática dentro do círculo infanto-juvenil, e eu posso afirmar sem medo de errar, que o problema atinge todas as escolas, sejam elas da rede particular ou da rede pública, haja vista estarem ali os que sofrem e os que praticam esses tipos de ações e/ou agressões.
Por não saberem dar nomes às suas atitudes, algumas crianças e jovens continuam praticando suas supostas “maldades”, alegando meras “brincadeirinhas”.

Brincadeira saudável nenhuma causa transtorno físico, psicológico e o isolamento de uma criança. No entanto, quando se trata do conhecido Bullying, a história muda de figura, pois, aqui, se aplica a ideia da brincadeira da “maldade”.

Hoje é crescente o número de crianças ou adolescentes que assumem comportamentos agressivos contra o colega de escola sem se darem conta do que estão fazendo, quando, infelizmente, estão praticando o Bullying. Mais triste ainda, é saber que dentre os alvos estão indivíduos inocentes, aqueles que raramente se dispõem a sair em defesa de si mesmos, seja por falta de habilidade, seja por dificuldades físicas ou emocionais.

Digo ainda que mais complicada seja a questão da falta de conhecimento por parte dos docentes e pais sobre este assunto. Muitas vezes, ambos já presenciaram essas ações e não se deram conta dos malefícios que Bullying causa. Por exemplo, há pais que desconhecem o comportamento agressivo do filho dentro da escola; como também há pais que não conseguem diminuir o sofrimento do próprio filho, quando este é o alvo. Encontra-se nesta cadeia de problemática a criança que, por insegurança, muitas vezes não consegue relatar a alguém as humilhações pelas quais passa
Chamo a atenção para esta questão, pois, afinal não cabe ao professor cuidar sozinho do comportamento dos seus alunos, ou seja, há aqui uma tarefa que deva ser compartilhada com a família. Nesse caso, o acompanhamento das crianças e dos adolescentes em fase escolar é missão, há tempos, daqueles envolvidos no processo do seu desenvolvimento: pais e escola. Mas há pais que não acham isso

No meu tempo o Bullying já existia, mas continuar acontecendo até os dias de hoje, leva-me a refletir sobre a necessidade de discussão sobre o assunto num âmbito mais geral. Pois, viver nesta época das trocas comunicacionais, da era da Internet, e permitir que os indivíduos se ataquem de modo negligenciável (via linguagem), é não permitir a própria evolução do homem enquanto ser das interações sociais.

E destaco a importância do debate sobre esse assunto, porque à medida que não possibilitamos a criação de espaços para fóruns de tamanha dimensão estaremos, com isso, convencionando práticas desumanas que podem vir a acarretar danos irreversíveis na fase de desenvolvimento do sujeito; esclareço aqui: “sujeito criança ou adolescente” que uma vez privado desses assédios morais, poderá ser um indivíduo mais disposto à prática da sociabilidade.

Há crianças perdendo o melhor tempo de suas vidas: a infância. Quando deveriam brincar, se relacionar com segurança, despertar sua criatividade - sustentáculo do aprendizado-, escondem-se por insegurança, por serem alvos de humilhações aplicadas por outras, também crianças e jovens, que não conhecem a si mesmos, tão pouco os seus limites.
Assumo enquanto educadora, mãe e cidadã, que não tenho e não apresento solução para o problema chamado Bullying, estudo o problema e me coloco à disposição para levar o assunto à luz de todos, mas, conclamo, caso você, leitor(a), tenha conhecimento sobre o tema e possa nos auxiliar, estaremos todos, eu, você e a sociedade, agradecidos. Podemos afirmar que a temática urge e não devemos nos dar por vencidos. Logo, o debate se faz urgente.

Tendo, ou não, alguma ideia, sugestão ou conhecimento, e se tiver algum interesse em discutir sobre Bullying, estaremos reunidos no próximo dia 20/10/2009, às 18h30, na sede do Jornal Folha da Região para uma breve discussão. Junte-se a esta causa, PORQUE BULLYING NÃO É BRINCADEIRA.

Observação: as instituições educacionais são lugares onde as crianças e adolescentes, pais e professores devem confiar. Ou não?

Rita Lavoyer é professora, escritora e tem sete obras publicadas, entre elas Bullying não é brincadeira.

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