sexta-feira, 2 de novembro de 2012

DOCUMENTÁRIO "BULLY"

Voltado para confissões, documentário "Bully" traz histórias de jovens traumatizados nos EUA.

01/11/2012 - 05h00 - Mário Barra - Do UOL, em São Paulo

Há quem ache absurdo uma criança sofrer qualquer tipo de agressão, verbal ou física, dentro de uma escola supervisionada por pedagogos e professores. Outros preferem pensar que o bullying "forma caráter" e que as brincadeiras entre jovens são, em geral, inofensivas. A opinião do cineasta Lee Hirsch, registrada no documentário "Bully", é transmitida por meio de jovens norte-americanos que passaram pelo problema e emprestam ao filme um tom de confissão e desabafo.
Exibido durante a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, o longa tem estreia prevista no circuito nacional no dia 9 de dezembro. O filme começa com o relato de David Long (veja trailer abaixo), pai de Tyler Long, um adolescente de 17 anos que se suicidou por conta do assédio dos colegas no colegial.
A fala emocionada, típica de documentários norte-americanos, é a tônica do filme, que conta com longas pausas silenciosas entre os depoimentos e registra constantemente os olhos vermelhos de choro de pais desesperados e filhos que se sentem perseguidos.
"Como você deixa isso acontecer?"
O fio condutor do documentário é Alex, um estudante de 12 anos em Sioux City, no estado de Iowa. Diariamente, o rapaz é ignorado, xingado e alvo da galhofa dos colegas na escola, mas para ele o pior momento é o trajeto até o local, percorrido dentro do ônibus escolar. Com câmeras ocultas, a produção do documentário registrou socos no braço, empurrões e estrangulamentos no garoto.
Até mesmo os pais reclamam com o garoto. "Como você deixa isso acontecer?", fala o pai quando o filho relata os abusos que sofre dentro do ônibus escolar. Para piorar o sentimento de culpa do jovem, o pai ainda cita a irmã mais nova, que poderia passar pelo mesmo constrangimento caso Alex não fizesse nada. A mãe também repreende o garoto, que tem vergonha de relatar os detalhes do que se submete no colégio. A opinião dos pais só muda quando as imagens das agressões são mostradas.
Também alheios à real condição de Alex, os coordenadores da escola acreditam que nada está errado dentro do ônibus. Limitam-se a dizer que nada podem fazer quando confrontados pelos pais "recém-iluminados" do rapaz.
Garotos, garotas e Kelby
O caso da jovem Kelby Johnson, de 15 anos, parece ser ainda mais grave do que o de Alex. Perseguida na cidade onde mora, ela precisou aguentar até uma tentativa de atropelamento com um utilitário esportivo. Homossexual assumida, Kelby enfrenta um universo maior do que o da escola e precisa lidar com o preconceito dos habitantes de uma cidade conservadora nos Estados Unidos.
Em um dos momentos mais revoltantes do longa, Kelby relata a distinção feita em tom de brincadeira por um professor, que lista os alunos por gênero durante a chamada: "garotos antes, depois garotas, em seguida Kelby".
Há ainda o relato de Ja'Meya, uma aluna exemplar que foi parar na detenção juvenil por ter perdido a paciência com o bullying dos colegas e sacado uma arma engatilhada dentro de um ônibus escolar, e dos pais de Ty Fields, um garoto de apenas 11 anos que se matou e teve o enterro filmado pela equipe de Hirsch.
Briga entre cinemas
Focado no depoimento dos participantes, o filme somente aponta para uma solução concreta ao problema durante um debate que os pais de Tyler Long ajudaram a organizar: uma fiscalização mais rígida dentro do sistema educacional norte-americano por parte de pais e mestres e o estímulo de um ambiente cooperativo para que os jovens sintam-se à vontade para relatar o que sofrem.
Sem mostrar exatamente como essas mudanças poderiam ocorrer, o documentário prefere adotar o discurso do "faça você mesmo" para incentivar os envolvidos a lutarem contra o bullying. Seja com reuniões de grupos para divulgação do problema do bullying -- que chega a ser classificado como epidemia -- ou com propostas que se assemelham a uma militarização do ambiente escolar, as imagens de "Bully" revelam a opção de Hirsch por simplesmente alertar a população norte-americana para o problema.
Mas nos Estados Unidos, o documentário gerou polêmica mesmo entre as redes de cinema. O problema foi a recusa da Weinstein Company, produtora responsável pelo longa, em utilizar a classificação indicativa proposta pelo órgão responsável no país por definir a classificação indicativa. A recomendação era de que apenas maiores de 18 anos poderiam ver o filme por conta da linguagem explítica envolvendo crianças.
Durante a queda de braço entre o órgão regulador e os estúdios, a rede de salas de cinema AMC decidiu permitir que menores de 18 anos assistissem ao filme. Já a rede Cinemark proibiu a reprodução do longa até que a recomendação fosse atendida. No final das contas, os produtores editaram parte do material, enquanto a classificação indicativa foi reduzida para 13 anos.

Obs- material gentilmente enviado pelo amigo Ventura Picasso.

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