sábado, 19 de fevereiro de 2011

A PALAVRA E O SEU PODER



IMAGEM DA INERNET



... e o mundo se fez. Tudo começou a partir da palavra.

De extrema relevância o artigo do amigo Orson Peter Carrara: “Doe Palavras” Folha da Região- A2, de 27/10/2010. Acesse o site www.doepalavras.com.br

Quanto poder a palavra tem?
Ela tem força e poder que ela própria desconhece. A palavra é formada por letras que trazem em si uma genética distinta. Tem vida, destino e intenções.

Se nos propusermos a pronunciar várias vezes a palavra ‘amor’, cada uma que sair de nossas bocas terá peso e medida diferentes.

Na pronuncia, embora contendo em si as mesmas letras /a/m/o/r/, estas se diferenciarão de todos os outros sinas que utilizarmos para dizermos outras ‘amor’, simultaneamente.
Cada ‘amor’ falado traz em si um traço químico. As letras, embora idênticas, possuem variedades de substâncias resultando infinitas combinações, determinando os caracteres de uma e de outra. Logo, a letra possui o seu DNA.

Os movimentos do diafragma, essenciais para realizarmos a respiração, também são únicos; o músculo expande-se para que o oxigênio se transforme em som ao passar pelas cordas vocais. Os movimentos diferem-se um do outro. Um som, embora passe pelo mesmo canal, jamais sentirá a mesma vibração, resultando em diversas intensidades sonoras.

Se estamos em estado de estresse, o cérebro manda sinais às glândulas suprarrenais que produzem, ao mesmo tempo, os hormônios de alerta: adrenalina (medo) e noradrenalina (raiva) que, se liberados com mais intensidade, alteram os batimentos cardíacos. O sangue flui mais rapidamente, envolvendo o cérebro e os músculos nessa troca de informações que vão se modificando à medida em que buscamos no nosso âmago as forças para continuarmos pronunciando o que desejamos: gritando, xingando, cantando, maldizendo, elogiando, etc.


Depois de extravasarmos as palavras, os hormônios deixam de ser secretados e o nosso emocional volta ao seu ritmo normal, permitindo-nos ou não, um estado de equilíbrio perfeito, o que chamamos de homeostase.

Os processos aos que o sistema humano se submete para levar a palavra ao alcance do seu receptor, torná-la-a única. O receptor, tal qual um aparelho, capta os sinais eletromagnéticos desta emissão (palavra) e os converte em substâncias positivas ou negativas, de acordo com o sentimento que os impulsionou.

Os nossos receptores irão recepcioná-las, e cada qual, respeitando o sistema do seu organismo as decodificarão, sentindo das palavras ouvidas a força que elas trazem em si.

A palavra de elogio tem o peso de uma pena. Quando pronunciada ela sobe; a de ofensa, o peso de uma âncora. Pronunciada ela dilacera grande parte das células do receptor, prejudicando-o.

Muitas palavras demasiadamente elogiosas são falsas, mas nenhuma palavra ofensiva deixa de ser verdadeira concretização do sentimento do falante.

Somos uma empresa, nada menos do que 100 trilhões de células, cujos órgãos internos nos proporcionam vivermos bem se dermos a eles condições de se manterem em perfeita harmonia.
Somos enigmas. Nossas exteriorizações podem produzir efeitos inimagináveis.

Todos podemos explodir, mas isso não nos dá o direito de mandarmos aos nossos alvos os mísseis verbais que produzimos cujo potencial nosso consciente desconhece.


Nossas palavras são feitas com partes da nossa estrutura. Têm nossos cromossomos.


Quantos filhos nós geramos em nossas bocas, frutos de nossos sentimentos, para matar a todos os instantes.
Palavras tombam estátuas, depõem líderes, condenam, erguem muros, eliminam nações; mas elevam, elegem, libertam, constroem, salvam vidas, criam mundos, porém...


Tudo pode acabar a partir dela.


Não perca tempo. Acesse o site acima, mande a sua palavra de conforto, e se proporcione um estado de equilíbrio perfeito. Aproveite esta oportunidade.

Rita Lavoyer

WORKPLACEBULLYING, MOBBING, ASSÉDIO MORAL




Isso tudo significa: violências repetitivas no local de trabalho. Para quem já entendeu o que significa bullying, aqui, o processo é o mesmo, isto é, a vítima também é “eleita”.

O assédio moral no trabalho é caracterizado por abusos de conduta de um funcionário, ou grupo, sobre outro através de atitudes que causam danos morais e psicológicos à vitima. Trata-se de humilhação, desonra e exploração do trabalhador, causando-lhe sofrimentos propositais.

A vítima é ‘eleita’ para ser agredida, chantageada e depreciada pelo chefe ou por um grupo de funcionários que o querem subestimar dentro do departamento ou em toda a empresa.
Qualquer funcionário pode ser alvo de bullying no trabalho. Ninguém está a salvo do sistema capitalista de produção, o que põe nas mãos de um chefe despreparado a pretensão de ‘achar’ que pode, através do medo, explorar seus subordinados.

_ Vai ter corte! A meta não foi atingida. Não sabemos se o quadro de funcionários será o mesmo amanhã.
Ai, que estresse!

_ Amanhã cheguem mais cedo, temos que adiantar e liberar o lote, ainda amanhã. Demoramos a conquistar esse cliente, temos que dispensar-lhe atendimento preferencial. Venha mais bem vestido, amanhã. Hoje, somos a imagem da nossa empresa.
Sorria se você estiver sendo descrito neste texto.

_ Esse horário do café é bom, heim! _ Ele? Hum... não dura muito. Com aquele tipo desengonçado não agrada o público. _ Olha lá o jeito dele, não desgruda do trabalho, não se levanta nem pro café. _ Não se junta, o rapaz? _ Workaholic, coitado, preciso do emprego. Se permanecer na empresa virará armário de canto.
Oh, grupinho da pesada!

_ Terminou o seu trabalho, mas tem outras coisas que pretendo que faça. Vá ao almoxarifado, procure as caixas datadas de 1900, desça-as todas. O cliente precisa, pra hoje , cópia de um documentos daquela época. Pra hoje!
Oh, perseguição!

_ Passem os seus cartões, mas voltem para o trabalho. Fiquem só mais um pouquinho. Amanhã, a meta será maior do que a de hoje, que conseguimos atingir raspando. Amanhã queremos esforço dobrado.
Oh, exploração!

São poucos exemplos que citamos para brincar com o texto, mas a realidade em determinados locais de trabalho é essa, sem tirar nem pôr nada!

Note que é repetitivo: “Amanhã vai ser pior que hoje”. Quem é que aguenta, todos os dias, “hoje e amanhã”, um clima de desaforo dessa forma dentro de uma organização? Quem produz com satisfação trabalhando sob pressão, sendo ameaçado se não conseguir isso, se não conseguir aquilo, como se funcionário já não existisse mais humano; mas, máquina.

Uma organização que tem um chefe que trata os que deveriam ser seus companheiros de trabalho com tirania, acaba destruindo equipes, levando profissionais à angústias, depressão, doenças psicossomáticas, quando não, até ao pedido de demissão, talvez esse o objetivo do chefe.

Vejo atitudes de bullying no local de trabalho como um prato de sopa jogado na parede. O macarrão gruda no alvo, mas o caldinho escorre e contamina todos os departamentos, degradando o clima entre os funcionários.

Há três formas de bullying no ambiente de trabalho:

Horizontal – agressões entre os trabalhadores do mesmo nível. Com frequência acontecem entre equipes onde há a competição. Se há um que se destaca mais e a competição impera, o destacado, certamente, será a próxima vítima.

Vertical ascendente- quando o funcionário assediador é menos graduado, isto é, ocupa cargo inferior em relação à sua vítima. Não digo que essa prática seja rara dentro das empresas. Acontece de os funcionários, individualmente ou em grupo, armarem para assediar um chefe. Boicotam a produção para vê-lo perder o cargo.

Vertical descendente - É o mais comum. O assediador exerce um cargo superior e pratica o bullying sobre um funcionário que ocupa um cargo inferior.

Um chefe, ou um grupo (sujeito ativo ou assediador) hostil submete, através de suas tiranias, o funcionário alvo (sujeito passivo ou assediado) a um estado de estresse crônico, levando-o a adoecer, prejudicando o rendimento do seu trabalho, podendo este vir a desenvolver a síndrome do pânico, entre outros prejuízos. Ainda que consiga produzir sob tensão, um funcionário assediado pode produzir uma bomba silenciosa dentro de si inocentemente.

Se a bomba da vítima estoura e o coitado mandar o assediador tomar ‘suco de caju’ , pronto! Certamente será penalizado. Mas ele aguenta, pelo menos tenta, quando pedir demissão não pode. Precisa do emprego. Se percebem que a vítima tem família e precisa daquele salário para sobreviver, tripudia mais ainda sobre ele, até que este peça demissão ou seja demitido por improdutividade.

Em resumo: Secada a última gota do caldinho, o bagaço joga-se fora.

Hei, você! No seu contrato de trabalho está escrito que deve praticar condutas abusivas, exercer a tirania? Sabe o que significa ser ‘buleiro’ no local de trabalho?

O agressor, no local de trabalho, é uma pessoa que se sente incomodada. Ele não é o superior, muito pelo contrário, se sente inferiorizado na presença da vítima, por isso a faz alvo sobre a qual descarrega sua insegurança.

Acredite, esse profissional agressor tem problemas sérios, ele é prejuízo certo para uma organização. Quer ter um funcionário ‘buleiro’ na sua empresa?

Ninguém está no mercado de trabalho ou ocupa uma posição profissional por acaso. Um profissional, graduado ou não, deve saber discernir, e muito bem, o certo do errado em suas atitudes. E a “criança” não poderá alegar que estava apenas brincando.

Num ambiente de trabalho onde não há sinergia, não há produção.

Combata o bullying no seu ambiente de trabalho. Divulgue essa ideia.


Rita Lavoyer está palestrando nas escolas e empresas interessadas em saber mais sobre esse fenômeno.

BATATAS PODRES


"Não necessitam de médicos os que estão sãos, mas sim os que estão enfermos.” _ Jesus. (Lucas, 5:31.)

Ouvia muitos adultos dizerem, quando eu era criança, que uma batata estragada dentro de um saco acaba estragando as boas.

Como eu não consigo me safar dos meus afãs, a batata insistiu em fritar na minha cabeça. Não havia como eu me acalmar diante de tantas batatas que me consumiram em um determinado momento. Recorri à geladeira. Sabe aquele dia que não encontramos nada na geladeira, nem uma batata? Pois é. Foi assim mesmo. Eu não tinha uma batata para acalmar a minha angústia. Fui ao mercado, daquele do tipo 'super', a procura de uma batata que me mostrasse o que eu precisava entender.

Na banca, as mais belas e brilhantes saltavam aos meus olhos suplicando: “leve-me, consuma-me, nasci para isso.” Cada uma pedia por si. Pois é, não eram essas consumíveis que eu queria. Mexi, derrubei, catei, e gostei de ver algumas caindo e se machucando no chão.

_ A senhora precisa de ajuda? – Perguntou-me educadamente, porém assustado, um funcionário daquele setor.

_ Preciso de uma batata podre, pode me ajudar a achar uma? – Respondi de súbito.

O olhar estranho do rapaz sobre mim mostrava o que realmente uma batata podre representa a alguém.

_ Senhora, as batatas podres não vêm para a banca, nós as jogamos fora. Não expomos batatas podres. Ninguém procura batata podre, principalmente para comprar.

_ Eu estou a procura de uma, moço, pode me ajudar?
_ Se tiver alguma por aqui, vai estar bem lá em baixo.

Primeiro passo da minha teoria: As batatas vistosas ficam sempre por cima. Heureca primária.
Segundo passo: Conforme vamos selecionando as mais vistosas, as rejeitadas vão descendo para aguentar o peso das saudáveis.

_ Moço, eu quero e vou achar uma batata estragada aqui.

Fui ensacando as batatas boas para sobrar espaço à minha investida, afinal louco existe para alguma coisa. Achei! Não uma, mas várias batatas com uma parte dela escurecida.

_ Moço, achei várias batatas começando a estragar...

_ A senhora vai comprá-las?

Uma pergunta tão simples me atingiu sem que eu esperasse. Por que eu compraria batatas que já estavam começando a estragar seu eu tenho à minha frente batatas vistosas?

_ Mas se elas não estivessem lá em baixo, certamente não estariam nesse estado e já teriam sido consumidas...- Tentei explicar.

_ A senhora não tem o que fazer? Observe o tamanho da banca! Desde quando batatas são vendidas, são expostas umas sobre as outras.

Percebi que o tempo do funcionário era curto e a teoria que eu ainda não tinha defendido não funcionaria ali. Separei as batatas machucadas e devolvi as ensacadas no seu lugar, afinal pessoas queriam pegá-las.

Terceiro passo: Se o pedaço estragado for cortado, poderei consumir o pedaço que ainda está bom; mas para consumi-lo terei que comprar a batata pagando pelo valor inteiro dela, boa ou não.

Quarto passo: Fui observar por que a batata estava estragada naquela parte. Notei que dentro de todas as partes estragadas havia um corte onde acumula o fungo que prolifera e acaba por estragá-la por inteira, caso a sua outra metade boa não seja aproveitada.
_ A senhora não tem dinheiro, quer que eu peça ao gerente dar essas batatas estragadas pra senhora?

Fui tentada a aceitar, mas como não sou perfeita...

_ Não, moço, muito obrigada! Passarei no caixa e pagarei pelo preço que estão pedindo por elas. Ainda há muito nelas que eu posso aproveitar.

Naquele dia a minha geladeira ficou cheia até o horário do jantar, quando eu fiz uma fritada de batatas, todos da minha família comemos, saboreamos e sobrevivemos até para contar a história.

Ah, só para encerrar, quero dizer que pode haver alguns enganos sobre teorias de batatas podres dentro de um saco. Será que os ferimentos que elas trazem no interior de suas podridões foram feitos por elas mesmas no momento em que foram colhidas?
Na dúvida, deixemos as bocas dos sacos abertas, nenhuma ferida é curada no abafamento, todos precisamos respirar.

Texto publicado no Jornal Folha da Região em 21/07/2010.
imagem internet

AS DROGAS, NÓS E NOSSOS FANTASMAS




Essa guerra contra os fantasmas exige ação, não só de parte de indivíduos isolados e de pequenos grupos, mas também nas grandes massas humanas. Essa guerra dentro de nós próprios é a – Revolução Criadora.” Moreno,J.L. Psicodrama. Cultrix, p.96

Estou aqui pegando carona no assunto. "Nova semana antidrogas em Araçatuba".
O bullying é meio degrau para o mundo das drogas, porque o buleiro precisa de uma gangue junto com ele. Nunca diga: isso não acontecerá na minha casa, porque não há lugar melhor para tirarmos lições do que dentro da nossa própria casa. Graças a Deus somos todos diferentes, mas tão próximos, que não conseguimos nos enxergar. Oh, difícil convivência humana!

Há séculos, as Ciências estudam o desajuste do homem com o seu meio, do homem com o seu interior e do homem com o mundo que o cerca.
Alguns fatores são responsáveis pela dissensão do homem com o seu universo real: psicológico, familiar, social, educacional, financeiro, cultural entre outros, acarretando, às vezes, em seu abandono, rejeição e preconceito. Eu afirmo sem medo de errar que o preconceito é um substantivo genético. Tá, que não o temos! Uns apenas mentem mais; outros, menos sobre isso.

Esses fatores responsáveis, quando não resolvidos a contento do indivíduo, fazem com que a cada dia ele busque significados para o seu vazio existencial, e nessa busca , muitos jovens deparam-se com as drogas. É muito frequente, para quem convive com conflitos internos, aceitá-las como solução, tornando-as necessárias para se fazer e se sentir importante.
O indivíduo precisa, por instantes, se sentir superior, dono de si, opondo-se a tudo e a todos, tal qual o buleiro - quem pratica o bullying.
Acha que as drogas o possibilitam isso. Entorpecido, mascara-se para conseguir liberar seus fantasmas. A pessoa sente dificuldades de encarar o mundo sabendo que os olhos alheios o julgam, o cobram, aprovam ou desaprovam-no. Engana-se ao pensar que com as químicas seja possível olhar os olhos do mundo sem temê-los.

Poucos aceitam apoio para se reerguerem novamente alcançando de volta sua dignidade. Dignidade esta colocada de lado, ignorada pelo dependente químico quando este “mergulha de cabeça” no poço, na mais profunda escuridão, no abandono e no seu próprio isolamento.

Vários “convites” contribuem para que o indivíduo se desgarre do seio de seu lar, da sociedade e de si mesmo. Basta abrirmos os nossos olhos e ouvidos para o que nos são oferecidos dia a dia que preencheremos, em poucas horas, infinitos relatórios.
O homem é um ser insaciável e busca constantemente seu preenchimento interior e respostas para sua existência. Acaba, por vezes, sendo vítima das propagandas enganosas, das marcas famosas, da sociedade que prega um consumismo desenfreado e mais , vítima de um dos maiores inimigos da sociedade – o traficante, indivíduo que resolve seu problema existencial por métodos injustos.
Não blasfemamos quando mencionamos “problema existencial” ao nos referirmos ao “traficante”, ele também não se enxerga e não vê o próximo como semelhante. Sabe que as drogas são produtos de retorno financeiro rápido, satisfazendo suas necessidades. Os dependentes químicos, por serem vítimas, passam muitas vezes a traficar. Mascaram-se, tentam subir de qualquer jeito nos palcos da insensatez, escalando nos ombros da família e dos amigos, fazendo-os vítimas involuntárias desse processo de decadência.

É o homem desfazendo o Homem, vivendo como primata, transgredindo a origem da Criação, agredindo seu Criador, exterminando sua espécie, destruindo séculos e séculos de Ciência e Civilização.

Resta, portanto, para o presente, a união de forças, dedicação, solidariedade, respeito e compreensão entre os Homens e conosco mesmo. Amemo-nos em primeiro lugar, aceitando as nossas diferenças e as dos nossos semelhantes. Será que com tanto progresso conseguiremos evoluir para aprendermos isso?

O Amor-Exigente é um balde de amor que tenta apagar o fogo da indiferença que está se alastrando sobre uma humanidade carente de fraternidade. É, pois, sua parcela de contribuição em prol da vida. Agora, com o Amor-Exigentinho temos certeza de que, muito em breve, nossas crianças de agora estarão bem melhor amanhã.

Parabéns à senhora Adalberta, mulher de garra, mulher de fé e de princípios, que tanto tem ajudado a tirar, com as suas mãos cheias de milagre do amor, as dores de famílias que trazem nos ombros o peso das drogas.

Nesta altura, é Deus quem precisa Dela.

Rita Lavoyer é professora e escritora.
Pós graduada em Linguística e Crítica Literária e
que afirma, constantemente, que “Bullying não é brincadeira”.

O BULLYING E O ATO INFRACIONAL





imagem: www.submarino.com

“Vede, não desprezeis alguns destes pequeninos...” _ Jesus (Mateus,18:10.)

Bullying é assunto sério e sistemático. Não podemos deixar que caia no esquecimento dos leitores. Com a implantação do Programa de Combate ao Bullying nas escolas municipais de educação básica de Araçatuba,(PROJETO DE LEI APROVADO HOJE ÀS 10H NA CÂMARA MUNICIPAL DE ARAÇATUBA) convido a todos os pais e dirigentes das escolas particulares a se engajarem juntos com a Secretaria Municipal de Educação, que acredito, trará um resultado benéfico ao futuro desta cidade.

Vamos pais! Vamos nos unir também, por nossos filhos, pelos professores e pela Paz dentro das escolas.
O bully trabalha todos os dias, botando em práticas as suas funções. Se ainda não ficou claro o que é bullying, vou fazer uma breve explicação.

Para ser considerado bullying, as ações do agressor sobre a vítima têm que ser repetidas, repetidas, repetidas várias vezes. A vítima é marcada para sofrer as consequências do bully todos os dias. Ela é escolhida pelo agressor por não apresentar condições físicas ou psicológicas para se defender dos ‘ataques’ a que é submetida. Entende? O bully não se cansa, ele precisa agi (sugar vida) constantemente. Se não for assim não é bullying. Melhorando a explicação:

Bullying: violência física ou psicológica, intencionais e repetitivas, praticadas por um indivíduo (bully - agressor) ou grupos de indivíduos, com o objetivo de intimidar ou agredir, causando dor e angústia à vítima. Lembrando: repetidas, repetidas várias vezes sobre uma vítima.

Buleiro- Como bully(valentão, brigão) é um termo em inglês, vamos traduzi-lo para o araçatubês como buleiro. Criada nova palavra na cidade de Araçatuba. Buleiro, agora em Araçatuba, é quem comete bullying. Escreva e acrescente-a ao seu dicionário.

Ato infracional- Os atos infracionais são sempre comparados aos crimes, ex : lesões corporais, calúnia, racismo, difamação, injúria etc. ou contravenções penais, alguns exemplos: provocar tumulto em festa; passar trote para órgãos públicos; retirar placas de sinalização das ruas; dirigir gracejos obscenos às pessoas; brigar com socos dentro ou fora da escola, enfim, todas essas condutas constituem contravenções penais e são punidas na forma da lei.

Então, se uma criança ou adolescente cometeu um ato infracional, não cometeu bullying, porque não o praticou várias vezes sobre uma mesma vítima com as intenções que o bullying tem. Logo, se uma criança ou adolescente comete bullying está, automaticamente, cometendo um ato infracional do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Não estou aqui diminuindo a gravidade de uma ou outra atitude, mas quero esclarecer que andam pintando o bullying ‘santo’, o que na verdade não é. Se eu trato o bullying como um ato infracional isolado apenas, tiro dele o peso maléfico que ele traz.

Antigamente, levávamos à escola os piolhos, embora eles não gostassem nem um pouco de estudar. Piolho é um ectoparasita encontrado em aves e parasita a cabeça dos humanos, retira nutrientes do organismo alheio para sobreviver.

Hoje, tem um piolho aqui, outro lá diante. Foi difícil, mas está erradicado, sabe por quê? Porque piolho fica do lado de fora da cabeça do ser humano, não é tão nocivo ao meio social, tão pouco aos estudantes, ao passo que o bullying vai às escolas dentro das almas das crianças. É um ser humano(buleiro) gritando ajuda, parasitando uma vítima, tentando retirar-lhe a essência, desconectando-o da sua própria vida.

Bullying são ações praticadas por quem tem uma vida desvivida, tentando eliminar outra que não pediu para ser vítima.

O veneno para o piolho, na minha época, chamava-se querosene; para o bullying, o remédio chama-se afeto, respeito e perdão.
Antes que qualquer criança aprenda a ler e a escrever, deve ser ensinado a ela, em casa, o que significa respeito e perdão. Na matemática resolverá melhor a questão do dar e receber.

Quando o meu filho soube do projeto lei para implantar o programa de combate a essa doença dentro das escolas me perguntou:

_ Mãe, essa campanha vai ser internacional?

_ Não meu filho- respondi-lhe. Primeiro a gente cuida do nosso jardim. Se as plantas forem boas, as raízes tomarão conta do todo.

Parabéns ao futuro das crianças de Araçatuba por esta nova lei implantada de combate ao bullying nas escolas municipais. Contudo, lembremo-nos sempre que a única lei infalível entre os homens é a da causa e efeito.

Meus agradecimentos a todos envolvidos nesta campanha. Em especial ao este Jornal Folha da Região que me abriu as páginas para eu gritar as minhas dores.

Mas eu não paro aqui, porque nada existe insignificante na estrada que percorremos.

RITA LAVOYER

SEXTING



Acha que eu estou brincando? Quando alguém afirmar que bullying não é brincadeira, acredite! Quando alguém disser que cyberbullying ( bullying na internet) não é brincadeira, bote fé! Quando alguém falar que workplace bullying (bullying no trabalho) não é brincadeira, creia!

Você sabe o que é sexting? É o bullying através de fotos e textos sexuais. Para mim isso é gravíssimo! Você acredita?

Pesquisas comprovam que mais de 30% dos pais não tomam conhecimento do que os seus filhos fazem na internet. Sempre achei que fosse 70%. Vivo atrasada! Eu procuro não me deixar induzir pelos resultados de pesquisas. Basta que aconteça um caso grave, para que sejam tomadas providências, principalmente no que se refere à vida de nossas crianças.

A “Beatbullying”, uma instituição inglesa, efetuou pesquisa com adolescentes entre 11 e 18 anos e constatou que pelo menos 1/3 dos entrevistados já receberam mensagens ofensivas pela internet.

Essa Rita está piorando na chatice, eu sei! Vou relatar o que eu imagino. Nada aqui é verdadeiro. É tudo fruto da minha mente.

Menininha tira fotos, ”nua”, no seu celular e as remete, por alguns meios eletrônicos, ao seu queridinho namorado.

Tá! Eu quero rir, porque ela não sabe realmente o que está fazendo, mas sabe, porque é “ligadinha”, o que é um celular e para que serve o tal aparelho.

Daí que o amorzinho dela mete-lhe o pé no traseiro e fica com aquela foto linda dela peladona em seu poder. Vai fazer o que o garotão? Mostrar aos amigos, ou não? Ele é um santinho...

A foto da “criança” sai rolando por aí. A garota entra em parafusos, bem naquele que já lhe falta. Tadinha! Tão criança e já tem um celular? Então tá, ela não sabia das consequências, porque eu apenas relato fruto da minha imaginação.

Tô peganu pesadu. Vô manerá! Isquici, é ‘’di menor’’ ela.

Voltando ao rumo do assunto.

Sexting é outra nova (pra mim que sou besta), mais já é assunto velho para justiça, porque tem fotos e textos pornôs entrando nas residências sem que os pais saibam.

Tô sabendo! É culpa da escola, não é? Dela e de todos os funcionários que não vigiam aquela meninada toda que entra no banheiro com celular moderno que tira foto.

Quer saber? Há alunos que o lugar deles não é a escola. Eles não têm espírito para aquele ambiente. Mas as estatísticas precisam apresentar números bem baixos de crianças fora dela. Vamos pôr lá dentro. Professor ganha bem pra quê!?

Bem, por eu não saber qual o lugar certo pra eles, vou deixá-los na escola mesmo. É uma solução pra esse meu enredo.

Tem mais! Eu imagino que há pais que nunca foram à uma reunião escolar. Quando o diretor os chama para relatar o comportamento do filhinho, (faz de conta que ele se saiu prejudicado) entram na escola com gangue para, quando não apedrejarem o prédio, baterem no professor.

Se o fenômeno bullying invadiu as escolas, é culpa de pais que não souberam e não sabem pôr limites aos seus filhos que, provavelmente, são vítimas de maus tratos em casa, saem e praticam o que assistem, vitimando inocentes que só pretendem ficar quietos nos seus cantos. Tá! Tô mal mesmo de imaginação.

Até quando vamos aturar que pais fujam de suas responsabilidades de educadores, formem delinquentes dentro de casa e os depositam dentro das escolas para perturbar a vida de alunos que querem estudar e de professores que querem trabalhar?

Putz, Rita! Você só escreveu besteira até agora.

Amigo leitor, perdoe-me, por favor! Eu queria falar sobre a gravidade desse novo fenômeno sexting, que é a divulgação de conteúdos eróticos, sensuais e sexuais com fotos pessoais de jovens, que competem entre si quem tem mais acesso às suas fotos na internet, mas fui tomada pelo fervor da minha imaginação. É que eu gosto de ficção, sabe?

Rita Lavoyer é professora, escritora.
Pós-graduada em Linguística e Crítica Literária.

EDUCAÇÃO LANÇA PROJETO DE COMBATE AO BULLYING

Folha da Região- caderno A 4 26/05/2010





Objetivo é capacitar educadores para identificar e prevenir a violência física ou psicológica.

REDE MUNICIPAL
>>Araçatuba
Araçatuba
Monique Bueno
monique.bueno@folhadaregiao.com.br

A Secretaria Municipal de Educação, junto com a Prefeitura, lançou ontem, no Dia Municipal de Combate ao Bullying, um programa que tem por objetivo capacitar educadores na prevenção e identificação de casos de bullying, prática que consiste em atos de violência física ou psicológica, que humilham, constrangem ou descriminam uma pessoa.

Após as ações de bullying se tornarem conhecidas pelos gestores e professores das escolas municipais, a próxima etapa do programa será um levantamento da demanda de casos e, em seguida, o desenvolvimento de projetos de intervenção.

Participaram do evento, realizado na Unip (Universidade Paulista), dezenas de professores, diretores, coordenadores pedagógicos de escolas municipais e particulares, além de alunos de cursos de graduação, autoridades e pais de alunos.


Segundo as psicólogas Milena Moimaz e Luciana Esgalha, da equipe multidisciplinar da secretaria, os casos que chegam até o grupo são queixas de agressividade, e não, especificamente, de bullying.


"Existe uma ramificação de comportamentos agressivos, e o bullying é uma, por isso, deve ser bem definido pelos gestores e professores", explicou Milena.


A terapeuta ocupacional Elisabete Gomes de Carvalho, que também faz parte do grupo multidisciplinar, explicou que os casos de bullying ultrapassam as barreiras das escolas, podendo
ser vistos também por meio da internet. "As pessoas são agredidas, psicologicamente, por e-mails e mensagens virtuais", afirmou. "O trabalho de prevenção deve ser feito também na comunidade".

TRATAMENTO
Elisabete explica que, a partir do momento em que as escolas desenvolverem seus projetos de tratamento das vítimas e agressores do bullying, e também as ações de prevenção, haverá o acompanhamento da equipe multidisciplinar. "Já fazemos essas visitas nas escolas, conforme vão aparecendo os casos de agressividade". Segundo a psicóloga Milena, o tratamento não deve ser feito apenas com a vítima do bullying, mas também com o agressor. "Vamos cuidar das duas partes, porque o agressor, se está cometendo esse ato, também já sofreu o bullying", disse.

O tema do agressor foi tratado durante palestra sobre o assunto apresentada pelo supervisor de ensino da Diretoria de Ensino de Birigui, José Carlos Munari. Segundo o profissional, todas as tragédias ocorridas dentro das escolas, principalmente no Exterior, são cometidas por vítimas do bullying no passado.

A professora e escritora Rita Lavoyer e a pedagoga Vivi Tupy também proferiram palestras sobre a importância e formas de se combater atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidas, praticados por indivíduo ou grupo.

BULLYING E CYBERBULLYING

Senhores pais, dirigentes escolares, professores e pessoas que têm sentimentos por crianças e adolescentes, leiam, urgentemente, a revista VEJA nº 18, de 05/10/2010, página 98: “A tecnologia a serviço dos brutos”.

Ali, os que ainda não se dão conta da gravidade do problema, poderão sentir um pouquinho o que significa ser vítima de bullying ou cyberbullying (agressões via internet).
O que me choca, é saber que há pessoas que estudaram para trabalhar com crianças e adolescentes, e não acreditam que esses fenômenos existem, quando não, mesmo sabendo se negam a enxergá-los, tirando o corpo fora, deixando a cargo de outros, até da polícia, resolverem um problema que elas têm por dever ajudar a solucionar.

Não estou inserida neste universo de bullying e afins porque eu quero, acreditem! Mas à medida que fui inteirando-me do assunto, fui percebendo o quanto eu, como ‘diplomada’, ‘esposa’, ‘mãe’, ‘amiga’ e muitos outros títulos me couberam receber, estava bem longe de ser considerada cidadã.

As sequelas do bullying são gravíssimas, principalmente para algumas crianças que não sabem lidar com humilhações físicas, morais e psicológicas. Algumas as resolvem com facilidades; outras, não! Cada ser humano possui uma natureza e uma forma de agir e se expressar. O agressor também. Não estou tirando do agressor o direito de ser humano, mas ele bem que se esquece disso quando planeja suas atrocidades.

Aqui, não me refiro mais às crianças agressoras que, por sua vez, também são vítimas por não ter-lhes sido apresentados limites por parte daqueles que deveriam educá-los. Refiro-me, exatamente, aos jovens agressores que não aprenderam, quando pequenos a dar nomes às suas atitudes maldosas, roubando de crianças indefesas o direito de viver a melhor fase de suas vidas: infância e juventude. Se desde a infância a criança aprender que certas atitudes são consideras bullying, quando maiores saberão o que estão fazendo, podendo assim, ser responsabilizadas por elas. Embora não exista lei que puna esses tipos de agressores, a ignorância sobre o tema é suporte para acobertá-los.

Se o seu filho, para ir à escola, apresenta dores diárias em qualquer parte do corpo, mãos frias, tremedeiras, desarranjo intestinal, e quando volta dela está irritado ou calado, isola-se no restante do dia ou sempre pedindo algo diferente para comer para acalmar o nervosismo, são alguns sintomas, “recursos inconscientes”, que a sua criança está utilizando para descarregar a ‘revolta’ travada na palavra que não consegue gritar. Não se assuste, pelo contrário, entenda-o. O seu filho é vítima de bullying.

Senhores pais, educadores, eu não estou brincando. Eu sei muito bem que bullying não é brincadeira. Eu tenho propriedades suficientes para gritar sem vergonha de revelar o oculto, mas o meu grito é fraco. E vocês? Vão continuar de boca fechada e deixar os seus filhos sob as garras dos algozes? Até quando irão permitir que seus filhos virem brinquedos?

No dia 07/05, última sexta-feira, o prefeito Cido Sério (PT) encaminhou à Câmara Municipal projeto de lei para implantação de combate ao bullying na rede municipal de ensino. Parabéns a toda equipe da Secretaria de Educação de Araçatuba que está empenhada em melhorar a qualidade, não só do ensino, mas de vida das crianças que passam pelos cuidados dos professores municipais.

Espero que as escolas da rede particular de ensino de Araçatuba que ainda não adotaram campanhas para impedir a prática do bullying, comecem a pensar sobre o assunto.
Senhores pais, quando forem matricular os seus, questionem a escola se ela já adotou uma campanha para ensinar aos seus funcionários, pais e aos alunos o que significa o bullying.

Se a escola não lhes der resposta, tire o seu filho de lá. Isso é prova de que, apesar de ela ter programas de ensino considerados de excelência, acaba se esquecendo do principal, ou seja: a vida do seu filho, futuro cidadão.
Vão continuar pagando pra ver?

RITA LAVOYER

JORNAL FOLHA DA REGIÃO 08/05/2010


AS SEQUELAS DO BULLYING




UMA CANÇÃO PARA DIONE.

Na certidão: Dione Francisco.



Dione era calmo; seu semblante, angelical. De seus olhos amendoados podia-se extrair brilhos multifacetários, e ele os multiplicava em suas doações, para enfeitar ainda mais os traços finais de sua cútis de porcelana.


Os lábios de Dione tinham contornos delicados e a cor de carmim exalava uma saúde inspiradora de onde fluía sorriso farto.
Os cabelos cacheados escondiam-lhe os ombros. A malha grudada na silhueta, mostrava peculiaridades expostas num corpo de mito. Assim a natureza o fez, assim a natureza o queria.


O Dione se fazia amigo dos colegas com uma força exagerada de se sentir igual. Dione era igual aos demais “diones”, embora os seus semelhantes o diferenciassem.
Em riste um, outro e tantos mais, foram os dedos que apontavam-no em julgamentos depreciativos.
Oh, Dione! Meigo Dione!

O tempo encurtava-se e as horas prometidas aproximavam-se. Seus passos delicados, outrora firmes, flutuaram sobre os ponteiros que marcavam o momento da dança no compasso das ameaças. Sem um par, Dione dançava no palco marcado com vara de giz.


Com a sua física indefesa, provou trocas de energias, perdendo de vez as suas partículas elementares. Castraram sua biologia, subtraíram-lhe sua igualdade.
Rasparam-lhe os cabelos, deram cabo àquele sorriso de paz. Os seus olhos injetados de sonhos foram chutados, fecharam-se diante de tanta impiedade.


Suas folhas voaram com o desespero do vento, levando, manchada, a sua história mal escrita ao tempo. O semblante daquele que um dia foi, é, agora, deformação. Do seu nu estendido no chão, uma geografia desfigurada escorria entre os vegetais daquele meio natural de relações.
Faixaram-no Johnny. “Johnny Francis.”

Oh, Dione! Como eu o vejo, agora, nesse chão pisado e cuspido por “homens de fibra”?
Cadê você, meu amigo? A sua casa, o seu sobrenome, a sua identidade cadê?

Que vontade de abraçá-lo e protegê-lo, mas cadê você, meu irmão, nesses pedaços de corpo que eu vejo?

Ouça a minha canção, meu filho querido! Que eu cantarei a tantos como você. É um pouquinho do que posso fazer. Quero cantá-los.

Ah! Esqueço-me, sempre, que eu não sei cantar... Sempre mesmo!

A minha voz não é bela, o meu som não tem ritmo, mas eu quero tanto uma canção para você, meu esposo!
Vá, meu amante, ouvir a canção que palpitou no seu peito, e arregaçou as mangas do seu verbo de vida.
Vá, no balanço da alma, exalar o seu perfume sem mais e nem menos.

Vá, meu pai amado, celebrar o bailado da sua pureza. Da natureza foi parte integrante, mas quantos amantes não o conheceram no amor.

Oh, criatura perfeita! Em quantas canções ainda tem que gritar? Lá, no seu encalço, pregaram um decalque e prometeram arrancá-lo com a justiça das mãos.


Quem sabe no palco de Apolo um anjo lhe cante uma música. Porque na do homem, você dançou Johnny. Você dançou!
Onde estiver aprenda: antes de ir à guerra cante uma canção em louvor ao seu deus. Já sinto, companheiro! Já sinto, que no oráculo ouvirá melodias de amor.
Vá até ele, um deus o espera para brincarem juntos com um disco cuja canção não desfigure o seu semblante de gente.
Ouça canções, querido! Ouça canções.
Perdoe-me, Dione! Perdoe-me, mas eu não sei cantar.

Rita Lavoyer


AS SEQUELAS DO BULLYING





Sabor de Pimentão.

Exploramos o mundo à nossa volta com os nossos órgãos dos sentidos. Eu sei que consigo sentir através da minha visão, saborear com o tato prazeres e angustias. Quantos remorsos degustamos ao engolirmos sapos que cheiram tão mal aos nossos estímulos, mas os fazemos, calados.

Éramos crianças. A turma ir a pé à escola. As ruas eram enfeitadas com uniformes, uns brancos; outros nem tanto. Íamos rindo, brincando com o outro sem mesmo saber quem ele era. Aglomerávamos conforme a escola se aproximava. Nas bifurcações, uma leva juntava-se à outra. Em determinada altura do caminho, eu sabia que iria encontrá-lo. O nome dele nunca soube. O conhecíamos apenas por “Pimentão”. Era menino alegre, divertia-nos até chegarmos ao pátio da escola. Ele me causava alegria. Era simples somente pelo fato de ser. Bastava-se.

Não foram nem uma, nem duas vezes que toda a escola ouvia gritos de alunos, porque estavam apanhando das mestras. Na minha sala, eu tremia junto com alguns, enquanto outra metade da classe incentivava, aos gritos, aquelas torturas.

A minha professora avisava, gritando, que aquilo deveria nos servir de exemplo. Diante de tamanha coação, ficávamos imóveis nas carteiras.

_ E aí “Pimentão”, apanhou hoje, hein!

Ouvi isso na saída. Um grupo de colegas de classe zoava o “Pimentão”, porque ele havia apanhado, dentro da classe, da professora, cujo nome não citarei, porque ela ainda vive.

Ele ficava vermelho, igual a um pimentão mesmo, quando o irritavam. Por isso, herdou o apelido. E o constrangimento o acompanhava até que findasse o seu caminho de retorno à casa, talvez deixasse a vergonha do lado de fora, quando a adentrasse, batendo a porta. Talvez...

No dia seguinte a rotina era a mesma, os encontros acontecendo e aquele menino, apenas “Pimentão”, animando a garotada. Eu gostava da alegria dele, embora não soubesse o seu nome. Apenas uma criança simples. Apenas.

Naquela saída eu o vi mais vermelho do que antes. Os “amigos” o chacotearam. Falavam de outra surra que levou da professora porque era ‘burro’, não decorara a tabuada. Engraçado! Não ouvimos os gritos do alegre “Pimentão”. Apanhara em silêncio desta vez?

Nunca mais o vi. Não havia mais o “Pimentão” naquela leva que se juntava à outra. Não sei para onde ele foi. O ano, tenho certeza, ele não terminou naquela escola. Desvencilhou-se aquele “Pimentão” da rotina escolar.

Acovardou-se ou teve coragem de fugir de si mesmo por terem lhe roubado a sua autoestima, a sua alegria simples de apenas ser o que realmente era?

Com variedades, os pimentões são ligeiramente picantes. Alguns dizem que quando os comem, lembram-se deles o dia todo. Cada um os digere conforme o funcionamento do seu organismo, por isso uns os saboreiam; outros, não.

O pimentão, enquanto uma hortaliça, meu organismo o aceita muito bem. Mas os meus sentidos, convertidos em impulsos elétricos e que transitam o meu Sistema Nervoso Central, me fazem ouvir os sabores daquele “Pimentão” que gritava aos olhos de tantos e que nada faziam para amenizar o seu flagelo, a sua angústia, a sua vergonha, a sua humilhação. As dores daquele menino eu ainda as vejo, eu ainda as ouço, mas eu não as digiro.

imagem:worldwidephotos.org.

A POLÍTICA DE ATENÇÃO À CRIANÇA EM ARAÇATUBA É BOA?




A política de atenção à criança em Araçatuba é boa?
Política- A-3 - Pergunta do dia 07/11/2009.




Parabenizo o Jornal Folha da Região por evidenciar esta questão, uma vez que o assunto faz-se urgentemente necessário e manifestações à respeito devem vir à tona, para que olhares sejam voltados às crianças.

É muito fácil falar em política, cobrando dirigentes, esses mesmos que se propuseram a nos proteger, mas, às vezes, não fazem à altura do que esperávamos, quebrando-nos as expectativas. Os políticos são nossos pais?

É cobrança atrás de cobrança que todos nós fazemos. Se o assunto é política, vamos ‘‘descer o pau’’. Há muito me ensinaram os meus direitos. Acabou-se a política do ‘cala boca’?

Claro que para a pergunta em questão, o destaque será maior se a resposta for “NÃO”. Gosto de um ditado chinês que diz: “Se deseja ver a tua cidade limpa, comece por limpar a frente da tua casa.” Isso não requer nenhum esclarecimento, a mensagem é clara. Trago esse ditado para dentro da minha casa. Se eu desejo ver meus filhos num mundo mais harmonioso e seguro, tenho que começar por educá-los em harmonia dentro do lar, ensinando-os a se respeitarem mutuamente. Não é fácil, a tarefa é árdua, mas não posso desistir, não posso deixá-los à mercê da política. Afinal, as crianças são crianças por mero acaso? Precisa política para me ensinar a ser responsável pelos que eu gerei?

É demagogia demais esta minha, estou repetindo o assunto, mas não me aquieto, porque tudo o que se refere às crianças se faz urgente e eu não posso esperar para depois e nem deixar que façam o que eu, por obrigação, devo fazer. Ah, lembrei-me: Política nenhuma isentou-me dos meus deveres.

E ultimamente tenho declarado minha indignação frente a comportamentos, principalmente os de crianças que atuam como adultos, sem sentimento algum em relação aos seus ‘colegas’. Tenho certeza que as crianças agressoras são tão vítimas quanto as outras que elas vitimam. Existe a política da oração?

Há pessoas bem intencionadas nesta cidade em trazer e fazer benefícios às crianças, mas todo o esforço ainda é pouco porque a criança é indefesa, precisa do abrigo de braços paternos. Isso, política nenhuma será capaz de substituir. Então, a política é falha, ineficiente e os que estão no seu trato acabam sendo os responsáveis por não darem conta do recado? Já foram decretadas as leis da política da ‘paternidade’ ou sou eu a atrasada por estar fora das normas que as compõem?

O assunto é complexo, muitas coisas devem ser discutidas a respeito, afinal muitas crianças nascem sem família. Serão filhos de uma política de p.... nenhuma produzida por fdp no plural?

Pensar se a política pública, esta arte de bem governar o povo, principalmente a que trata questões infantis, em Araçatuba, ‘é boa ou não’, depende de como eu aprendi a descascar uma laranja e como saboreio cada gomo dela. Como todos os gomos diferem-se entre sim, acabamos, às vezes, por engolir abacaxis, uns doces; outros, não!




Texto para a Coluna dos Leitores. Esse texto não foi encaminhado na íntegra, face ao vocabulário aqui apresentado.
Rita Lavoyer

A VIDA PEDE PAZ, A PAZ PEDE URGÊNCIA



Penso ser a guerra inexequível. Mas para torná-la exequível, homens de boa vontade em promovê-la reúnem-se para discuti-la. Pensando-a possível, arregaçam as mangas para promovê-la. Colocam em prática o PODC. Planejam, Organizam, Dirigem e Controlam.

Para isso, o homem é capaz de se reunir, fazer amigos para alcançar o que deseja. O homem pode! E junto aos seus iguais, executam o que planejaram dias seguidos, consumindo-lhes noites de sono, reuniões familiares, refeições saudáveis em horários corretos. Estressam-se, brigam entre si nesse grupo de iguais para verem os projetos no papel concretizando-se em explosões.

Conseguem tornar a guerra exequível. Executam-na, e em seguida executam-nos. Tornam-se ‘experts’ no assunto. Isso é dom do homem.

É impressionante, penso eu, como nós, seres humanos, embora não muito dentro do processo evolutivo para sermos considerados de fato Homens, não temos mais a capacidade de nos indignarmos com o que vemos de errado. Algumas barbáries já são tão comuns entre os “civilizados”, que se destaca mais entre um grupo, o homem que menos se compadece com fatos que, a princípio, deveriam nos chocar.

Quando penso que eu já não estou mais contida no outro, porque ele esgota-se em si mesmo, sinto-me dentro de uma vala comum em que todos somos descartados. Não estamos mais habituados a nos compadecermos com o próximo, porque o meu próximo, de preferência, é o último da fila. E eu não o vejo, uma vez que a fila dobra a esquina. Logo eu já nem sei mais quem é o meu próximo.

Então, que cada um sofra as suas consequências, porque eu também tenho as minhas e cada um por seu umbigo, e o mundo gira como a minha cabeça também gira quando eu a coloco no travesseiro, e a minha consciência não se aquieta, enquanto não me disser tudo apontando o dedo no meu nariz.

Confesso: nem eu mesma aguento o discurso da minha consciência. Afinal de contas, amanhã é outro dia e eu preciso dormir para repor as energias que eu gastei hoje. Mas a minha consciência quer me ensinar que ela não se esgota sozinha e necessita ‘viver’ contida em mim. No que eu lhe grito para ver se ela me esquece: “Sou aprendiz, vai procurar um profissional!”

Então eu chorei, e fui buscar consolo no meu livro “Fonte de vida”, o abri exatamente na página 321, cujo texto traz o título “Ajudemos a vida mental”. Veja um fragmento dele:

“Não nos esqueçamos, pois, de que abençoada será sempre toda colaboração que pudermos prestar ao povo, em nossa condição de aprendizes. Ninguém precisa ser estadista ou administrador para ajudá-lo a engrandecer-se. Boa vontade e cooperação representam as duas colunas mestras no edifício da fraternidade humana”.

Diante de tão grandioso ensinamento, aprendi que: quando as lágrimas nos vêm e em Deus buscamos ajuda, uma resposta à elas nos será dada imediatamente.

Acreditei nisso e me conscientizei de que tendo eu o dom do aprendizado, as minhas lições apreendidas não devem ser guardadas. Quanto mais eu as libero, mais ainda elas estarão contidas em mim. Assim entendo que eternamente devo ser aprendiz para eu não ter medo agir com medo de errar. O aprendiz pode!

Voltando ao assunto ‘guerra’, entendi que aprendizes, meu próximo e eu, se quisermos, conseguiremos reconstruir o que ‘experts’ destroem. Podemos fazer um jardim onde há escombros, para isso, basta arregaçarmos as mangas. No concreto também nasce flor. É utopia?

Se a guerra nunca foi, porque a PAZ deve ser assim considerada? Cumpramos bem o nosso papel de aluno na cartilha do bem, porque a nossa vida pede paz, e a paz pede urgência e eu preciso de você que é o meu próximo, e que me completa, para eu encontrar a minha paz.

Autoria - RITA LAVOYER

BULLYING NÃO É BRINCADEIRA



Durante a minha infância tive algumas experiências com brincadeiras desagradáveis nos grupos de amigos. Nunca fui “santinha”, mas revidar não era minha característica, por isso, sempre ficava com um espinho na garganta ou uma ‘coceirinha’ na palma da mão provocando-me: “por que não deu o troco?”

O sentimento passava logo e no dia seguinte era tudo igual, uma vez que continuávamos amigos, realizando as mesmas rotinas de vida, dentre elas a corriqueira passadinha na casa do outro para, a pé, irmos à escola. Aquela época foi boa, porque foi o meu tempo e eu o aproveitei. Cada um a seu tempo, não acha?

Mas o meu “tempo” parece que ainda não terminou. Tenho que me manter alerta, de prontidão, para receber e agradecer o que me chega de bom. Do mesmo modo devo estar preparada para resolver o que vem como contrário aos meus objetivos. Bem, me desenvolvi um pouco, portanto, posso dizer que tenho algumas condições para realizar tal fim.

Embora muitas coisas tenham mudado de rumo, desde aquela época até agora, parece-me que algumas permanecem nos mesmos lugares. Às vezes, me questiono se o homem, depois de tantas transformações sociais, tecnológicas, informacionais, percebe que a vida tem lhe possibilitado a aproximação ou o melhoramento nas suas relações interpessoais. Tenho a impressão de viver da mesma maneira que os nossos ancestrais pré-históricos que sobreviveram à custa de muita luta. Não penso com isso em desconsiderar o homem como um ser evoluído, no entanto, existem algumas circunstâncias vividas que me levam a pensar contrariamente a este fato.

É aqui que chego à ideia do Bullying. Falar sobre Bullying, hoje, para mim, já não é mais tão doloroso. Fui me inteirando sobre o assunto até apreender o significado desta palavra ‘estranha’. Estranha? Não. É uma palavra cujo conceito nos acompanha há gerações.
Para quem ainda não sabe, Bullying significa uma variedade de agressões intencionais e repetidas, praticadas entre alunos para mostrar o poder de força de um sobre o outro. Os autores e os alvos são crianças e adolescentes, e as ações dos agressores e/ou autores são praticadas dentro das escolas, cujas vítimas (alvos) são os mais tímidos, ou aqueles que apresentam algumas características físicas que podem chamar a atenção, os conhecidos ou tratados – “diferentes”.

As pesquisas indicam que as crianças alvos de Bullying superam cada vez menos seus traumas psicológicos. O problema está no crescimento desta prática dentro do círculo infanto-juvenil, e eu posso afirmar sem medo de errar, que o problema atinge todas as escolas, sejam elas da rede particular ou da rede pública, haja vista estarem ali os que sofrem e os que praticam esses tipos de ações e/ou agressões.
Por não saberem dar nomes às suas atitudes, algumas crianças e jovens continuam praticando suas supostas “maldades”, alegando meras “brincadeirinhas”.

Brincadeira saudável nenhuma causa transtorno físico, psicológico e o isolamento de uma criança. No entanto, quando se trata do conhecido Bullying, a história muda de figura, pois, aqui, se aplica a ideia da brincadeira da “maldade”.

Hoje é crescente o número de crianças ou adolescentes que assumem comportamentos agressivos contra o colega de escola sem se darem conta do que estão fazendo, quando, infelizmente, estão praticando o Bullying. Mais triste ainda, é saber que dentre os alvos estão indivíduos inocentes, aqueles que raramente se dispõem a sair em defesa de si mesmos, seja por falta de habilidade, seja por dificuldades físicas ou emocionais.

Digo ainda que mais complicada seja a questão da falta de conhecimento por parte dos docentes e pais sobre este assunto. Muitas vezes, ambos já presenciaram essas ações e não se deram conta dos malefícios que Bullying causa. Por exemplo, há pais que desconhecem o comportamento agressivo do filho dentro da escola; como também há pais que não conseguem diminuir o sofrimento do próprio filho, quando este é o alvo. Encontra-se nesta cadeia de problemática a criança que, por insegurança, muitas vezes não consegue relatar a alguém as humilhações pelas quais passa
Chamo a atenção para esta questão, pois, afinal não cabe ao professor cuidar sozinho do comportamento dos seus alunos, ou seja, há aqui uma tarefa que deva ser compartilhada com a família. Nesse caso, o acompanhamento das crianças e dos adolescentes em fase escolar é missão, há tempos, daqueles envolvidos no processo do seu desenvolvimento: pais e escola. Mas há pais que não acham isso

No meu tempo o Bullying já existia, mas continuar acontecendo até os dias de hoje, leva-me a refletir sobre a necessidade de discussão sobre o assunto num âmbito mais geral. Pois, viver nesta época das trocas comunicacionais, da era da Internet, e permitir que os indivíduos se ataquem de modo negligenciável (via linguagem), é não permitir a própria evolução do homem enquanto ser das interações sociais.

E destaco a importância do debate sobre esse assunto, porque à medida que não possibilitamos a criação de espaços para fóruns de tamanha dimensão estaremos, com isso, convencionando práticas desumanas que podem vir a acarretar danos irreversíveis na fase de desenvolvimento do sujeito; esclareço aqui: “sujeito criança ou adolescente” que uma vez privado desses assédios morais, poderá ser um indivíduo mais disposto à prática da sociabilidade.

Há crianças perdendo o melhor tempo de suas vidas: a infância. Quando deveriam brincar, se relacionar com segurança, despertar sua criatividade - sustentáculo do aprendizado-, escondem-se por insegurança, por serem alvos de humilhações aplicadas por outras, também crianças e jovens, que não conhecem a si mesmos, tão pouco os seus limites.
Assumo enquanto educadora, mãe e cidadã, que não tenho e não apresento solução para o problema chamado Bullying, estudo o problema e me coloco à disposição para levar o assunto à luz de todos, mas, conclamo, caso você, leitor(a), tenha conhecimento sobre o tema e possa nos auxiliar, estaremos todos, eu, você e a sociedade, agradecidos. Podemos afirmar que a temática urge e não devemos nos dar por vencidos. Logo, o debate se faz urgente.

Tendo, ou não, alguma ideia, sugestão ou conhecimento, e se tiver algum interesse em discutir sobre Bullying, estaremos reunidos no próximo dia 20/10/2009, às 18h30, na sede do Jornal Folha da Região para uma breve discussão. Junte-se a esta causa, PORQUE BULLYING NÃO É BRINCADEIRA.

Observação: as instituições educacionais são lugares onde as crianças e adolescentes, pais e professores devem confiar. Ou não?

Rita Lavoyer é professora, escritora e tem sete obras publicadas, entre elas Bullying não é brincadeira.

PAI, POR QUE NÃO ME OLHOU?




Pai, hoje, observando-o, vejo seu semblante cansado e nos seus cabelos brancos sei que há muito de mim.

Pai, por que não me olhou?

Quero abrir um parêntese no período em que eu me afastei da minha própria vida.

Olhe-me pai, a partir do momento em que eu era apenas uma criança e que o senhor nos surrava, a mim e aos meus irmãos, porque fazíamos xixi na cama. Sabia que o senhor achava que nos corrigiria. Hoje, aprendi a me limpar sozinho e entendi : "que não devemos desprezar nenhum destes pequeninos...”

Olhe-me pai, a partir do momento em que eu já comia sozinho e o senhor nos reunia nos momento das refeições e nos ensinava a rezar olhando os alimentos que o senhor insistia em dizer ter trazido para nos alimentar. E batia novamente quando eu dizia que não gostava daquilo que estava servido. Hoje, aprendi a orar e entendi: “que nem só de pão vive o homem”

Olhe-me pai, a partir do momento em que saíamos em família com roupas novas, o senhor sempre foi zeloso com a nossa aparência, mas não podíamos brincar porque tínhamos que voltar para casa limpos. Sabia que o senhor queria conservar o tecido. Hoje, aprendi a agradecer e entendi: “Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.”
Olhe-me pai, a partir do momento em que o medo que eu sentia do senhor me dominava e eu corria para os braços da minha mãe para não apanhar mais e mais quando eu, brincando com os meus irmão, bagunçava a casa que o senhor exigia que mamãe sempre mantivesse em ordem. Hoje, aprendi a caminhar e entendi o verdadeiro: “Vinde a mim...”

Olhe-me pai, a partir do momento em que virei moço, e que o senhor nem se dava conta dos horários que eu chegava em casa. Sabia que o senhor estava cansado porque dobrava o seu turno no trabalho e ninguém podia fazer barulho, tínhamos que conservar o silêncio. Hoje, aprendi que há momentos sagrados e entendi que: “Havia muitos que iam e vinham e não tinham tempo para comer.”

Olhe-me pai, a partir do momento em que eu me divertia com colegas, que o senhor sequer sabia quem eram e nem a quais famílias pertenciam. Eu sei pai, que o senhor se preocupava demais somente com o que se passava dentro da sua casa. Hoje, aprendi a me resguardar e entendi o que significa: “Guardai-vos dos cães.”

Entenda, pai, que o parêntese aberto em um período que deveria ter sido a minha vida, mas que eu deixei de viver por conta de tantos vícios, não foram fáceis. Não me viciei porque quis.

Pai, sou fruto da sua árvore. Aves de rapina consumiam-me debaixo da sua sombra e o senhor não percebia que uma fruta sua apodrecia pendurada em seus galhos? “Por seus frutos os conhecereis”

Pai, por que não me olhou? Na rua me formei delinquente quando já não achava razões para voltar para o hospício silencioso que o senhor chamava de casa.

Mas hoje, pai, estamos unidos novamente. Eu, nesse monólogo íntimo, o observo sentindo uma vontade imensa de abraçá-lo e de pedir-lhe perdão por tê-lo feito sofrer dentro do parêntese que eu abri num momento da minha vida. Pai, tanto quanto o senhor, eu possuo dois ombros, escolha um e me ofereça um outro seu. Ambos, pai, precisamos chorar.

Porque eu entendi alguma coisa: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...”

_ Pai, eu te amo. Posso abraçá-lo?




Rita Lavoyer

COM VONTADE DAQUELA DATA



Ela espera ansiosa por aquele “parabéns pra você”.

Começou a achar que nada mais aconteceria, nem antes e nem depois daquela “data querida”.
Quase não dormia; adormecia apenas, por medo de não acordar e viver “muitas felicidades”.
A ansiedade atormentava-lhe também o estômago. Via e sentia cada guloseima sendo feita para a ocasião dos “muitos anos de vida”.

Refeições já não lhe desciam. Reservava o lugar para o cheiro do que preparavam. Com os olhos já secos pela insônia e a inanição atormentando-lhe as vísceras, começou a delirar e, num surto, quis atacar os belos doces que enfeitavam uma mesa da sala onde receberiam muitos convidados para aquele esperado “ é pic! é pic!”.

Foi abordada quando levava os dedos àquilo que lhe cheirava tão bem aos olhos. Atordoada com um ‘croc’ que levou na cabeça, não entendeu as reprimendas da mãe que a alertava: “não é hora! não é hora”.

Ela esperava há muito por aquele “rá-tim-bum!” Assistia ao movimento da casa, os empregados em roda-viva e a aflição da mãe que não desgrudava do telefone, gritando com alguém do outro lado porque a roupa da criança ainda não havia sido entregue.
Na cozinha, montavam o bolo com muitos recheios que lhe escorreram pelo canto da boca. Levou os dedinhos mais uma vez e outro ‘croc’ ela saboreou. Dessa vez não escapou de um castigo de há dias no quarto.

O corre-corre continuou porque a festa para aquela data estava planejada e nada poderia sair errado.

A casa estava decorada com os mais variados enfeites infantis. As mesas, belamente enfeitadas, confluíam para outro salão igualmente abrilhantado para o aniversário daquela criança. A roupa, minuciosamente desenhada e bordada, enfim chegou. Uma serviçal a levou para o quarto onde a criança jazia o castigo por ter querido saborear o bolo do seu aniversário antes dos parabéns.
Perguntaram-se qual a razão daquilo.

Os convidados foram chegando e amontoando os presentes que não sabiam a quem entregar enquanto a mãe lamentava-se não saber nenhuma anomalia da criança.

Um bolo indesejado destoava em meio aos enfeites, enquanto velas acesas queimavam a felicidade atravessada de vontade de saborear as coisas daquela festa. Convidados assistiam àquela criança, degustando os quitutes, lamentando aquela data.

PS. Pais, esta minha história, hoje, é ficção, mas se eu não acordo a tempo, viraria realidade.

Texto publicado pelo Jornal Folha da Região em 10/06/2009.

NÃO QUERO QUE ME BATAM



Jogaram-me em uma arena para pagar o que eu devo. No que estendi as mãos, para um breve cumprimento, um golpe me foi dado levando-me à lona. A areia era macia, fora revolvida para amortecer a minha queda.

Não quero que me batam. Estendi uma das mãos apoiando-me em outra, no que esta foi chutada e outra queda degustei; eu vi todo o céu de uma arena tão cercada com madeiras faces mil , todo o apoio que busquei na força dos meus dois braços colocou-me de joelhos.

Não quero que me batam e um sorriso enlargueci, o branco dos meus dentes avermelhou-se num instante. As gotas tão pungentes arrancavam os aplausos de mãos tão estridentes.
Não quero que me batam e com a força dos meus braços e joelhos bem firmados me ergui toda defesa para saudar o cobrador .

Não quero que me batam e já toda recomposta os meus braços eu abri; corri para o encontro quando, separando-nos a distância, uma lança atravessou-me e novamente eu cai. Com o apoio de uma mão e também dos dois joelhos me arrastei até a cerca e ali me apoiei, mas ela era tão solta... não me pôde sustentar; num impulso, não sei de onde, para o centro retornei.

Não quero que me batam e a lança até doía um pouco no meu peito, mas a esquerda me estancava, com a direita acenei. O braço na altura e feliz por agradar, senti profundo golpe na altura do meu punho. Logo o abaixei para esconder o rompimento da articulação.

Não quero que me batam e com o meu ombro tão direito apoiei tão forte clava. No que eu virei o rosto, o frio de um metal atravessou-se em minha face, fiquei desfigurada.

Não quero que me batam e por isso me firmei no apoio dos meus pés, sem muita demora uma intervenção mutilou-me um membro inferior.
Não quero que me batam e resolvi me sentar, fiquei bem quietinha no centro da arena, já não via o que se passava quando os meus olhos foram vazados e também não sei dizer quando rompeu a minha coluna.

Não quero que me batam e entendi que deveria deitar-me na areia daquela cena. Não sei para onde foi a lança, já não a sinto mais em meu peito, já não sinto nada, só a parte do rosto lateja um pouco. Uma voz, tênue e mansa, eu ouvi se aproximando, ordenando que parasse a cobrança neste dia. Senti na minha testa a ponta de um dedo, palavras me informavam que ele voltará até que se finde esta cobrança totalmente indolor.

Não quero que me batam e a todo instante vou vivendo, toda vez, para entregar-me de corpo e alma até pagar o meu credor.

É assim, como esta aqui, muitos outros sem dó nem pena, mutilaram e mutilam as presas que os amam. A Lei Maria da Penha saiu para protegê-las, mas ainda há muitos gemidos de amores escondidos, pois preferem sofrer caladas a perderem os seus predadores-maridos.


Autoria - Rita Lavoyer

NATAL DO MENINO DE RUA



Oba! Chegou o Natal. Festa melhor que esta, somente o carnaval.
Natal. Natal das crianças... Das crianças que têm lar. Não para alguns...
Por isso, não adianta esperar!
Natal, Natal, Natal !!!!
É tão gostoso passar a noite toda com amigos e trocar presentes. Ouvir o sino soando.
Blim-blom! Bam-bam ! Blim-blom !
Ouço algo errado no ar ?
Hum! É noite de Natal. Que tal uma história ganhar?

_ Que coisa mais sem graça! Sentar na porta de uma igreja? Por que não vai para um banco da praça?
_ Oh, criatura! Não sabe que a escada é dura? Vá para um banco, lá não há degrau. Escada não tem encosto e pode lhe fazer mal.
_ Não esbarre nas barras, são de longo feitio. Isso? Não é para o seu perfil.

Alguém de boa linhagem, cheirando a perfume de aurora, disse que atrapalhava a passagem e mandou aquela coisa embora.

Foi. Voltou. Ficou. A porta não se fechou porque tinha muita gente de pé querendo, naquela noite, mostrar que tinha fé. Ele também.

Fé? Não se sabe. Porém ficou de pé. Conhecia o seu lugar. Ficou do lado de fora assistindo ao padre no altar. Era uma coisa linda de se ver. Fez o sinal da cruz igualzinho o padre fez. Mas, mal sabia ele que daquele cálice só ele iria beber.

Os fiéis se ajoelharam. Ele também. Aqueles pra agradecer a tudo o que têm. Ele, apenas por ser alguém.
Já quase meia-noite. O galo cantou e o sino badala. Muitos fogos enfeitam o céu. Uns vão pra ceias, outros pras boates. Outros... sabe-se lá aonde. Sabe-se Deus onde o Papai-Noel dele se esconde?

E não é que ele chegou?

Mas... tenha dó! Aquilo não tem cara de trenó. Não desceu do céu? Não! Foi enviado pelo coronel e trouxe a ele uma bala de fel.

Por que, menino de rua, foi ficar bem na porta da igreja? Agora veja! Pediu muito bem quando se ajoelhou. Menino de sorte. Pediu só um presente, mas, 38 ganhou.

Noite de Natal, naquele lugar, é chique e fria. O calor daquela igreja abafou todos os homens e o gelo só ele sentia.

Por que, menino de rua, foi nascer com tão pouco brilho? Você não tem pai nem mãe, mas é de Deus o único Filho.

Você agora não tem direito a jornal, nem à palha porque ela é do animal.

É uma história comovente, mas ... quem sabe ele nasça novamente!

_ É, quem sabe... Tomara não seja igual Aquele. Nascer no dia de Natal pra deixar a festa triste e se chamar Jesus. Invejoso! Ainda bem que morreu de revolver. Só faltava querer morrer na cruz.

Autora- Rita Lavoyer

QUAL É O SEU NOME?

imagem da internet


_ Oi! Ela é minha esposa. O nome dela é trabalho.
_ Oi! Ele é o meu esposo. O nome dele é trabalho. Temos 4 filhos que têm os mesmos nomes: moradia, alimentação, segurança, educação, saúde, lazer.
_ Ela tem pais. O nome dos velhos? Plano de saúde, fisioterapia, farmácia, enfermeiros, vai-e-vem e combustível pra levá-los pra cima e pra baixo....
_ Ele tem pai e mãe. O nome deles? Abandonados.
_ Os meus pais não são abandonados. Eu cuido muito bem deles. Pago plano de saúde, alimentação, moradia. Pago fisioterapia. Se precisarem de mim para levá-los em algum lugar, levo-os e não reclamo.
_ Está vendo!? E os seus irmãos, hã!? Qual é o nome deles? Eles se chamam bar nos finais de semana, pescaria com a família, reuniões com os amigos, passeios com os filhos, cinema, teatro. Aliás, qual é o nome daqueles filhos deles? Eu vou falar. O nome de cada um dos seus sobrinhos é: sedentarismo, passeio, pescaria, bar e outras diversões com os pais deles. O nome de toda a sua família deveria ser ‘inúteis’.
_ Olha, o meu nome é trabalho. Casei-me com ela porque os nossos nomes combinavam, ainda combinam. Ela também tem irmãos. Muitos irmãos. Quer saber o nome deles? Inúteis. Gostou do nome? Inúteis são pessoas como os irmãos dela, que viajam com os filhos, freqüentam casas de amigos, pagam para assistirem shows bacanas. Recebem pessoas, freqüentemente, em casa, com petiscos e cerveja gelada. Aliás, faz muito tempo que não os vejo. Por onde andam os seus irmãos?
_ Talvez junto aos seus.
_ Será que eles se encontram?
_ Inúteis sempre dão um jeitinho de se unirem aos outros.
_ Não está na hora de buscar os filhos?
_ Está. Eu busco dois e você leva os dois. Depois passa no mercado e leva as compras que a mamãe me pediu, mas não estou com tempo de fazer isso agora. A lista está debaixo do telefone.
_ Aproveita que já é o seu caminho, passa na farmácia, compra os medicamentos do meu pai e leve lá na casa dele. Faça aquela tabelinha, como eu sempre faço, e põe na porta da geladeira. Peça desculpas à minha mãe e diga que não poderemos ir almoçar lá nesse fim de semana porque vou trazer trabalho pra casa. Ah, diga à minha mãe que eu já agendei o dentista pra ela.
_ Ah, traga o seu laptop. Marquei com dois clientes nesse fim de semana. Não marque compromisso nenhum. Alguém tem que ficar olhando as crianças.
_ À noite, se der tempo, a gente conversa.
_ Menino! Entra logo nesse carro que eu estou com pressa.
_ Anda moleque. Vai fazer sua mãe perder tempo.
_ Por que vocês não contratam um motorista pra nós, assim param com essa gritaria.
_ Por que? Está achando que os seus pais são inúteis?
_ Nossa! Vocês se entendem mesmo, hein! Até as respostas são exatamente iguais em palavras e momentos. Aliás, poderiam começar a nos chamar pelos nomes que temos?
_ Vocês têm nomes compridos demais. Se acrescentarmos o motorista aí sim, não os chamaremos de coisa alguma.
E o celular toca, um de cada lado daqueles pais dos filhos.
Pra quem dizer : “Pai!Mãe! se eles não os escutarão?
E o telefone toca, a vida toca, mas não toca pessoas que ‘não e nem’ se tocam.
E o filhos, na garupa das circunstância.

Autora - Rita Lavoyer.

PAI, EU TINHA TANTO PRA CONVERSAR

imagen da inernet




Resposta do filho ao texto do pai publicado nesta coluna em 30/07/2008- (em baixo) “Eu tenho tanto pra lhe falar...”

_ Pai, eu tinha tanto pra conversar com o senhor, mas o senhor, pai, nunca me escutava. Eu não sabia direito como me expressar afinal, eu pouco ouvia as suas palavras. Quando o senhor vinha conversar comigo era sempre aos berros por isso, quase nunca eu o ouvia e me calava, o senhor me mandava, lembra-se?

Quando o senhor me colocava de castigo eu não achava ruim pai, porque eu sabia que o pensamento do senhor estava ligado a mim naquelas horas. Isso era bom. Eu derrubava leite, fazia birra. Era uma reação que me dominava e eu não sabia o porquê. Praticava e me entristecia ao mesmo tempo. Agora eu reconheço que errava, por isso, pai, perdoe-me, por favor.

Eu sei que está sofrendo com a minha partida. Eu sei das promessas que fez enquanto chorava sobre o meu corpo. Não faça mais nada por mim, pai. Faça pelo senhor e por sua esposa. Eu aceitei nascer para ser o seu filho porque tínhamos histórias para escrevermos juntos, vivendo-as, mas o ponto final veio antes do fim e o nosso caderno está aberto. Procure ajuda pai, para poder entender os porquês disso ou daquilo; respostas virão e deverá estar preparado para elas. Aquela hora chegou. Fechou o que deveria ser fechado e o senhor não disse aquilo que teve a oportunidade de dizer, simplesmente, porque não sentia amor por mim. Sei que ele está descortinando dentro do senhor e quando ele estiver bem claro não grite como prometeu “Um dia eu vou gritar : Meu filho eu te amo.”

Pai, não grite mais com ninguém e nem para mim. Eu o ouço através da sua dor e é ela quem me transmite quem o senhor realmente é, permitindo-me perdoá-lo pai, porque a minha alma ainda é de criança. Sei do poder de perdão do Nosso Criador e Ele lhe dará, se permitir, as letras corretas para terminar a história da sua caminhada cujo sinal o senhor atravessou. Ele estava fechado; o senhor, embriagado. Bêbado mesmo. Lembra-se, pai?

Pai, o senhor ultrapassou muitos sinais: o da tolerância, do amor, da fraternidade e do respeito com os outros e consigo mesmo.

Ainda não é a sua hora, a minha também não era. Na trajetória que o espera carregará, sozinho, o fardo que cabia a mim ajudá-lo a carregar. Só que o peso, agora, pai, será bem maior, mesmo que eu queira sair, o senhor não conseguirá me tirar de dentro dele. Esta história, pai, borracha nenhuma apagará.
Rita Lavoyer




Texto publicado no Jornal Folha da Região em 07/08/2008.

EU TENHO TANTO PRA LHE FALAR...



Filho, eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras, não sei dizer. Por isso, deito os meus braços sobre você.
Filho, eu tenho tanto pra lhe falar, mas... “Cale a tua boca! Assim fui ensinado, assim também terá que aprender.”
Filho, eu tenho tanto pra ....“ Já pro quarto, de castigo, por ter feito isso comigo.”
Filho, eu tenho: “Derrubou o leite na mesa, vai limpar com o nariz pra aprender a virar gente.”
Filho... “Vou contar aos teus colegas da escola o moleque que você é, pra ficar com vergonha.”
Filho, eu tenho tanto pra lhe falar. Filho, eu tenho tanto. Filho, eu tenho. Filho!

Filho!!! Eu tinha tanto pra lhe falar, mas meu silêncio não me deixou.

Filho, os meus braços estão abertos, volta pra eles. Filho, fale comigo, o seu quarto o espera. Se quiser, posso levar uma caneca de leite quente pra você tomar na cama. Volta meu filho! De qualquer jeito eu o quero, quebrado ou inteiro, não importa o jeito.

Quero vê-lo sorrindo , com aquele seu jeitinho maroto, cheio de saúde e sapeca. Volta meu filho. Vamos convidar os seus amigos a virem em casa e brincaremos juntos. Vamos passear naquela praça onde nunca fomos. Sempre o achei organizado, com os seus carrinhos todos bem guardadinhos no armário. Isso era bom, Mas agora, podemos esparramá-los no chão, o que acha? Iremos ao cinema ou assistiremos a um filme engraçado em casa, fazendo farra e comendo pipoca.. Vai gostar, uma experiência nova.

Filho, no seu aniversário vamos fazer aquela festinha que você sempre nos pediu. Prometo que vou dar um jeito pra sua festinha ficar bem animada, convidar todos os seus colegas. Sei que você não tem muitos, mas até lá vai arrumar bastante. Faremos uma viagem, pra quando chegarmos, contar aos seus amigos tudo o que você pôde ver de bonito.

Filho, você está gostando do que estou falando pra você? Responda filho, tem que me responder.

Droga! Você nunca vai me entender. Já está chegando a hora filho. Vou beijá-lo agora. Filho, sua pele é tão macia, tem a maciez de um bebê, cheirinho de bebê e gostinho de filho. Filho, você tem um jeitinho de filho que eu não havia reparado ainda. Filho, está chegando a hora. Estou sentindo uma vontade imensa de abraçá-lo e dizer algumas coisas que eu nunca disse porque, com palavras nunca soube dizer, com gestos nunca soube dizer, com sentimentos nunca soube dizer.

Chegou a hora. Fechou. Nunca mais vou ter a oportunidade de dizer o que, ainda, não tenho coragem de dizer. Um dia eu vou gritar:

“Meu filho, eu te amo.” E de onde você estiver, certamente, irá me ouvir e poder me perdoar.


Quem ainda não praticou nada disso que passe sobre o texto a primeira borracha.

Texto publicado no Jornal Folha da Região em 30/07/2008.

A COR QUE OS OLHOS SENTEM

imagem www.sabetudo.net.




Uma criança chamada “algum de nós” perguntou ao seu pai que se chama “todos nós”:
_ Pai! Por que o céu é azul?
O pai lhe respondeu:
_ Filho, o céu é azul porque Deus o fez azul.
_ Mas, pai! Por que Deus fez o céu azul? - Continuou o filho.
_ Deus o fez azul, meu filho, porque Ele escolheu o azul. – Explicou- lhe.
_ Por que Ele escolheu o azul e não o cor-de-rosa?
_ Porque Deus, meu filho, é Homem e azul é cor de homem.
_ Então Deus fez o céu só para os homens, pai?
_ Não, meu filho. Ele fez o céu também para as mulheres, crianças, animais, vegetais e tudo mais que vive embaixo dele.
_ Então pai, por que Ele não fez o céu colorido?
_ Porque Deus é Homem, já lhe falei. Além do mais o homem gosta de estar sobre tudo, o céu está sobre nós. Ele, Deus, pode mudar o tom da cor azul, às vezes o céu fica azul mais claro, à noite fica escuro, mas continua azul.
_ Pai, tem dia que o céu fica cinza...
_ É quando ele se esconde de medo das tempestades. Mas por trás do cinza ele continua azul.
_ Mas pai! Se o azul é cor de homem e o céu é azul por que ele se esconde atrás do cinza? O azul é cor de homem. Homem, pai, não tem medo de tempestade. Pai, qual é a cor de mulher?
“Todos nós”, o pai, amarelou totalmente naquele momento.
“Algum de nós”, então criança, perguntou:
_ Pai! A tempestade é cor-de-rosa?
_ Às vezes. Não... Quer dizer... É!
_ Pai, por que Deus fez a tempestade cor-de-rosa?
_ Não foi Ele quem fez. Aliás, o cor-de-rosa é um vermelho meio desbotado. É uma mistura, como a tempestade. Misturam-se os climas e ela acaba acontecendo.
_ Pai! Quem fez o vermelho?
_ O vermelho, filho, é uma cor primária tanto quanto o azul e o amarelo.
_ O que é cor primária, pai?
_ É uma cor que não precisa de uma outra cor para ter sua própria tonalidade.
_ A cor-de-rosa precisa, pai?
_ Sim. A cor rosa precisa de duas cores para ter sua própria cor. É o vermelho misturado ao branco.
_ Por que a cor branca não é primária se ela não precisa de outra cor pra ser branca, pai?
_ Porque branco, simplesmente é branco. E pronto! Nem é cor...
_ Não é? - Perguntou a criança com muita indignação.
_ Menino! É cor sim. Mas não tem tonalidade.
_ Pai...
_ Hum!
_ O azul está no céu. Deus fez o céu com a cor azul, então o azul é a primeira das cores primárias?
_ Não sei!
_ Pai, será que Deus usou uma cor primária porque não sabia misturar as cores, torná-las diferente?
_ Que besteira – respondeu “todos nós”.
_ Eu gosto de cor-de-rosa. Mas eu gosto de vermelho e também gosto de branco - afirmou, rapidamente, o menino ao pai.
Aquele pai que se chama “todos nós” olhou fixamente para a criança que se chama “algum de nós” e lhe disse:
_ Se você crescer tendo essa preferência ao cor-de-rosa poderá ter algumas marcas roxas nesse teu corpinho branco.
O diálogo acabou ali.
O tempo, caprichoso que é, cuidou em deixar as cores do mesmo tom de outrora. Elas não envelheceram porque as cores não envelhecem.
O céu, por sua vez, permanece azul. Às vezes mais claro, outras mais escuro. Cinza, avermelhado, amarelo e também, muitas vezes, branco como algodão.
A tempestade?
Continua, é claro, com todo o seu tom de autoridade. Sem avisar, ela chega e leva tudo. Em muitas circunstâncias, tiram até as cores. Levam-na para bem longe fazendo com que escorram por todo um lamaçal.
Então, um grande azul deixa-se borrar por um amarelo-alaranjado que depois fica bem vermelho e toma a cor de brilho.
O azul se irradia. O lamaçal seca. As cores renascem e um colorido infinito domina todo o transparente. E assim, os nossos erros e acertos.
Se não agirmos, não teremos a chance de errar, muito menos de acertar. Não veremos tempestades, tampouco, veremos um sol brilhando a nos sorrir.




Texto publicado no Jornal Folha da Região em 23/07/2008

VAI DEIXAR O SEU ANJO CAIR?



Você já abraçou seu filho hoje? Você já deu um beijo em sua testa? Ou você é muito ocupado para perceber, que do seu lado tem um anjo precisando de você? Você já abraçou seu filho hoje? Você já deu um beijo em sua testa? Antes que seja tarde, lhe faça um carinho. Corra, abrace forte o seu filhinho. Gilberto Barros


Tem anjos que são enviados pelo Criador. Tem anjos que, simplesmente, escorregam do céu porque a pressa é muita, não querem esperar a vez de receber amor.
Aqueles são recebidos de braços abertos. Estes, escorregadios ou displicências do Senhor? Não nos cabe julgá-los, apenas uma mera observação. Estes, algumas vezes, no escorregão, encontram, pelo caminho da queda, outros anjos que lhes entendem as mãos e servem-lhes de pára-quedas na aterrissagem.
Não falaremos dos enviados como não falaremos destes socorridos. Outros, do mesmo bloco de lambaris ensaboados, caem direto no chão e, como se de vidro fossem, espatifam-se. Um outro anjo, que deveria estar de braços abertos para protegê-lo ‘na e da’ queda estava, simplesmente, de braços cruzados.
Talvez, estivesse ocupado e não percebeu que aquele anjo era o complemento do seu eu. O anjo, de braços cruzados, já adulto, percebendo aquela caca de cacos no chão, resolve organizar o ambiente. Junta os pedacinhos, com todo amor e carinho e vai colando um a um, até que seu anjo, totalmente reconstituído, toma feição de criança.
Os braços, enferrujados por terem ficado por muito tempo cruzados, não conseguiam, ainda, envolver aquele corpinho de cacos e cola. Mas o esforço foi grande e as engrenagens foram se lubrificando naturalmente. Forças do exercício. Cacos e cola foram se esticando a medida em que, braços desenferrujados os envolviam.
Passaram a ser dois em um. Com o suor dos sentimentos, cacos e cola começaram a se desprender. Cola não colava mais os cacos. Cacos perderam suas formas. Anjo adulto, mais velho, tirou areias dos seus olhos e, com elas, modelou os cacos para que se encaixassem na cola. Nem toda areia foi suficiente. Cacos com cola, já inteligente, chamou seu anjo de mãe. Mãe, já quase madura, chamou aos seus remendos: filho.
Ela o abraçou e deu-lhe um beijo na testa. O calor de seus lábios fez derreter um pouco da cola, descolando um caco, bem no centro do crânio. E assim são os remendos de um anjo que caiu fora do ninho. Mas a mãe, no seu instinto acolhedor, chora, ri , ama e abraça forte o seu filhinho, enxugando, sempre, algo desagradável, que não consegue identificar, mas que fica vazando pelos pequenos vãos entre os cacos e a cola.
Rita Lavoyer