sábado, 19 de fevereiro de 2011

EU TENHO TANTO PRA LHE FALAR...



Filho, eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras, não sei dizer. Por isso, deito os meus braços sobre você.
Filho, eu tenho tanto pra lhe falar, mas... “Cale a tua boca! Assim fui ensinado, assim também terá que aprender.”
Filho, eu tenho tanto pra ....“ Já pro quarto, de castigo, por ter feito isso comigo.”
Filho, eu tenho: “Derrubou o leite na mesa, vai limpar com o nariz pra aprender a virar gente.”
Filho... “Vou contar aos teus colegas da escola o moleque que você é, pra ficar com vergonha.”
Filho, eu tenho tanto pra lhe falar. Filho, eu tenho tanto. Filho, eu tenho. Filho!

Filho!!! Eu tinha tanto pra lhe falar, mas meu silêncio não me deixou.

Filho, os meus braços estão abertos, volta pra eles. Filho, fale comigo, o seu quarto o espera. Se quiser, posso levar uma caneca de leite quente pra você tomar na cama. Volta meu filho! De qualquer jeito eu o quero, quebrado ou inteiro, não importa o jeito.

Quero vê-lo sorrindo , com aquele seu jeitinho maroto, cheio de saúde e sapeca. Volta meu filho. Vamos convidar os seus amigos a virem em casa e brincaremos juntos. Vamos passear naquela praça onde nunca fomos. Sempre o achei organizado, com os seus carrinhos todos bem guardadinhos no armário. Isso era bom, Mas agora, podemos esparramá-los no chão, o que acha? Iremos ao cinema ou assistiremos a um filme engraçado em casa, fazendo farra e comendo pipoca.. Vai gostar, uma experiência nova.

Filho, no seu aniversário vamos fazer aquela festinha que você sempre nos pediu. Prometo que vou dar um jeito pra sua festinha ficar bem animada, convidar todos os seus colegas. Sei que você não tem muitos, mas até lá vai arrumar bastante. Faremos uma viagem, pra quando chegarmos, contar aos seus amigos tudo o que você pôde ver de bonito.

Filho, você está gostando do que estou falando pra você? Responda filho, tem que me responder.

Droga! Você nunca vai me entender. Já está chegando a hora filho. Vou beijá-lo agora. Filho, sua pele é tão macia, tem a maciez de um bebê, cheirinho de bebê e gostinho de filho. Filho, você tem um jeitinho de filho que eu não havia reparado ainda. Filho, está chegando a hora. Estou sentindo uma vontade imensa de abraçá-lo e dizer algumas coisas que eu nunca disse porque, com palavras nunca soube dizer, com gestos nunca soube dizer, com sentimentos nunca soube dizer.

Chegou a hora. Fechou. Nunca mais vou ter a oportunidade de dizer o que, ainda, não tenho coragem de dizer. Um dia eu vou gritar:

“Meu filho, eu te amo.” E de onde você estiver, certamente, irá me ouvir e poder me perdoar.


Quem ainda não praticou nada disso que passe sobre o texto a primeira borracha.

Texto publicado no Jornal Folha da Região em 30/07/2008.

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